sábado, 27 de fevereiro de 2010

Sabonete

                Durante os anos, já se brincou muito na lama, deitou-se tantas vezes no chão, a chuva banhou (e banha!), até hoje, o presente. Da janela, da mesma forma, o vento trouxe e levou muito das pessoas... Máscaras que permaneceram e se quebraram nas mãos do mago, o duende do tempo (tão jocundo!). Assim, o que era, já foi, o que é está passando e aquilo que virá a ser chega e pára - passou à passado.
                A criança a crescer com o velho - que rejuvenesce quando vai descobrindo o fim. Aí, ao se encontrar nos últimos grãos de areia da ampulheta... toma-se um banho! Faz-se, então, primeiro a limpidez das mãos na pia do banheiro... As portas trancadas para os pés no piso frio do in...cômodo. Eis que a água, também fria, incorria no álbum de fotos cujas imagens se esvão junto da espuma fina que se forma exalando cheiro de mar... lágrimas. Seca a mão.
                E já despida, coloca no cesto de roupas sujas o que não repetiria. Depois, entra na cascata ascendente e torna cinzas. Logo após, o sabonete faz seu truque (mágica!): do pó negro, a espuma, a volúpia do nu frio contra o nu fervoroso, à areia fina de esperança: a fênix.
                O sabonete, portanto. O sabonete por tanto tempo foi só e apenas. O sabonete cúbico e cilindrico que agora colore as curvas de marfim e corrói o que já não se quer, o que sai pra não voltar e que depois de todo esse tempo, passou e depôs à favor de ser feliz!

Júlia de Mello

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