segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Aniversário

Se abro a porta vital escancara-se um mundo de pontos, travessões, vírgula, exclamações e interrogações. O correr do lápis é um milagre divino, bem como a maldição do poeta orfista. No entanto, cultua-se a alma viva, enquanto o corpo morre – num caminhar sem fim – de exaustão.
A respiração, portanto, suga rimas pulsantes e as horas se vão, não despedem. Onomatopéias, reticências, figuras: Criaram-na num texto eterno, etéreo, além... Aí, de quando em quando, o lirismo toma o todo da formiga e a faz borboleta... uivante.
Ah... Desse modo, ela vai e voa em busca do intenso, profundo: poesia, prosa, amigos poetas, como também, filosofias. Assim, em constante vôo, mergulha fundo nas alturas das idéias perfeitas, todavia, sem ter precisado de reminiscência alguma. Cresce. Cresce... Metamorfoseia!
Eis que a mariposa se descobre num mundo de dramaturgia. Veste, pois, personagens: a princesa, a adulta, a filha; Tenta ser a esperança, contudo, consegue e desiste (depende); amiga, o pensamento promíscuo (prazer!), a neta, o absinto inspirador, a candura, a menina sonhadora – sempre. Em outras palavras, é um caleidoscópio de risos e prantos e medos e momentos felizes. E cresce.
Segue o fluxo! Sábio foi Heráclito que não se banhou duas vezes na mesma água. Em contraste, os quirópteros perdem-se na imensidão crepuscular e, também, no anoitecer enluarado. Badaladas, enfim, soam o passar dos microssegundos vividos por mais um ano que se vai, e foi.
Dessa forma, esvai de mim pro leitor, meu tesouro secreto. De súbito revela-se o milagre, a clausura, meu eterno prazer de berço, sendo, portanto, a caneta, o papel, e as frases. Logo depois, cravam, no peito meu, mais uma estaca do tempo, consumidor do corpo e consolidador das (minhas) palavras.

Apenas a comemoração dos dezoito centésimos.
- Parabéns pra mim!
Júlia de Mello

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