domingo, 28 de fevereiro de 2010

Praia


A ressaca, cansaço mórbido do estômago enxovalhado... A borboleta, liberdade da mente, do olhar, de falar, de ser físico e éter... O cachorro, a docilidade companheira de si própria, companhia só... E o mar, que leva a superfície pro fundo e traz dele, novamente, a superficialidade...
Num jogo de pernas e patas. A borboleta sobrevoava a areia da praia – aragem branda- um tanto clara, um tanto escura, a liberdade. Quando o cachorro corria em rodopios e saltos e vivia o ser voador. Cheio de cores. Preenchido de vida momentânea.
Então o mar; E a ressaca. Aquele cujo trazer e devolver delicados proporcionavam a imensidão... de tudo. Por mais, a saudade, a vontade de ir e voltar, como as ondas, como também, o desejo de ficar... Liberdade frívola e libertina, mas liberdade...
Além, o sol e pedras e conchas... O céu. Estéreis. Assim a comunhão da temperatura, da âncora, do passado fóssil. Eis que, mesmo na sombra, se está quente devido à âncora etérica e distante, afim de distanciar daquilo que simples e puramente está, para o que complexamente mergulha no que ficou vivendo o que simples e complexamente esteve, está... só. Liberdade...
Liberdade de pensar: Sonho.
De repente ficam no quadro inconstante arenoso, na profundeza e superficialidade da ressaca, a palavra do... sonho ex-tático(a).
Ah. O cachorro, ao ver a cena, subitamente correu brincando com pernas e patas, saltou e penetrou o que havia de borboleta, de vôo, de sonho, e por algumas frações de segundos, até curou a ressaca marítima de ali estar liberto...

Júlia de Mello

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